Única companhia de danças de cegos do mundo visita a Escola Bolshoi

Nesta terça-feira, 1º de outubro, a Cia. Ballet de Cegos de São Paulo, única companhia de cegos do mundo, passou um dia repleto de arte e dança na Escola do Teatro Bolshoi no Brasil. Além de aulas de balé clássico e contemporâneo, o grupo, composto por dez bailarinos, dançou e proporcionou novas experiências para alunos e colaboradores da instituição. Esta iniciativa ocorreu por meio da professora de dança Juliana Bermudes, que dá aulas para as bailarinas cegas, na Associação Fernanda Bianchini. Juliana, que também é cursista na Escola Bolshoi e já está no 3º módulo do Curso de Metodologia Vaganova, comentou: “foi uma emoção inexplicável ver os alunos da Escola Bolshoi interagindo com as meninas, se propondo a ensiná-las! Um momento único e muito enriquecedor para todos que vivenciaram este dia”, comenta a professora.

O dia iniciou com a Companhia fazendo uma vivência com colaboradores da Escola Bolshoi, onde eles tiveram os olhos vendados para vivenciar com o elenco o grande desafio de interagir sem enxergar. Esta ação é resultado de mais de 20 anos de dedicação e trabalho da Associação Fernanda Biachini, e foca no bom relacionamento interpessoal, o trabalho em equipe, a versatilidade, organização, autoconfiança e determinação. O objetivo foi mostrar aos envolvidos a superação dos próprios limites e uma nova forma de ver a vida, diante de um contratempo.  

Em seguida, o grupo seguiu para a sala, onde fizeram uma aula de balé clássico com as alunas do 3º ano, sob orientação da professora Bruna Lorrenzzetti ao som do pianista Cassiano Fayad. Com passos firmes, musicalidade aguçada e arte transbordando em cada movimento, a aula foi um misto de emoção e inspiração para as alunas, que ficaram encantadas com a técnica e os passos precisos das bailarinas. “Só podemos agradecer a oportunidade do dia de hoje. As duas escolas vivenciaram grandes experiências e muita troca de informações artísticas. Agradecemos a oportunidade e desejamos que outras surjam”, segundo a Presidente da Cia. Ballet de Cegos de SP, Fernanda Biachini, que acompanhou os bailarinos e palestrou para todos na Escola.

As bailarinas puderam vivenciar também, pela primeira vez, uma aula de dança contemporânea, na turma do 6º ano com a professora Ariate Costa. “Foi renovador ter essas meninas em nossa aula. Fiquei impressionada com a desenvoltura delas, por ter sido a primeira vez fazendo aula de contemporâneo, pois pegaram as combinações muito rápido, o que é surpreendente para qualquer bailarino, seja ele deficiente ou não. E o sentimento foi de igualdade, os alunos não colocaram barreiras ou diferenças. Isso mostra que a Escola Bolshoi esta de portas abertas à todos, e trabalha com êxito sua missão de formar artistas e cidadãos. A arte da dança não pode ter limites ou barreiras, pois no palco são todos iguais”, conclui Ariate.

Os bailarinos também subiram no palco da Agrippina Vaganova, onde apresentam dois lindos balés, “La Esmeralda” e “Olhando para as estrela”, emocionando a plateia  composta por alunos e colaboradores, agora novos admiradores da companhia. Estavam presentes os bailarinos Geyza Oliveira, Maria Naissy da Silva, Marianne Mayumi Miura, Jessica Cordeiro, Everton Caetano, Cintia Domingues Bispo, Aldenice Moreira, Bruno da Silva, Marina Alonso Guimarães, a Presidente Fernanda Bianchini, os professores Cesar Augusto de Albuquerque e Juliana Bermudes, e a Bianca de Oliveira, da área de marketing.

Associação Fernanda Bianchini

Este projeto foi iniciado em 1995 com cerca de 10 alunas, e tornou-se uma metodologia pioneira para o ensino da dança e referência mundial por seu valor artístico e inclusivo. Já são 24 anos de história e mais de mil vidas transformadas.

A Associação Fernanda Bianchini - Cia Ballet de Cegos [AFB] hoje atende mais de 400 alunos de várias idades, em sua maioria deficientes visuais. Sua metodologia de ensino do Ballet Clássico é pioneira e reconhecida mundialmente. A integração social de deficientes visuais por meio da dança, principalmente do ballet como uma atividade extracurricular, é a principal missão da entidade.

Inclusão – A inclusão por meio da dança é tão profícua que, atualmente, além de Ballet Clássico, a escola oferece aulas gratuitas de Sapateado, Dança de Salão, Expressão Corporal, Danças para a Terceira Idade e Teatro para seus assistidos, com a formação de turmas de estimulação precoce para quem nasce com a deficiência.

Atualmente, a ABF conta com 13 professores de dança, entre eles, as deficientes visuais Geyza Pereira da Silva e Veronica Batista, formadas na própria entidade, e a gestora Fernanda Bianchini, como voluntária. Na grade de aulas semanal, os professores se revezam no atendimento a quase 200 alunos matriculados, divididos em grupos por modalidades de aprendizado, segundo os critérios do estatuto da entidade.

A instituição também está desenvolvendo metodologia para ministrar aulas de Ballet Clássico para cadeirantes. A ideia é que, em breve, comece a funcionar a Cia. de Ballet para Cadeirantes e a Cia. de Dança Contemporânea. Ambas estão na pauta de novos projetos em construção da AFB.

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