Na Escola Bolshoi os alunos tem aulas práticas e teóricas. Na disciplina de História da Dança, a professora Bruna Lorrenzzetti, faz uma pesquisa engajada de conteúdo, para repassar aos seus alunos. Confira o artigo:

O homem como um ser natural busca encontrar aquilo que supre suas necessidades para a sobrevivência. Assim como precisou do fogo para aquecer seu corpo, ele precisou expressar seus sentimentos através dos movimentos corporais se comunicando, agradecendo ou invocando a natureza e as forças superiores, desenvolvendo uma das primeiras de suas manifestações, a dança. Desde os primórdios o homem necessitou instintivamente da comunicação. Podemos acreditar que em sua primeira tentativa utilizou o movimento para comunicar-se, pois ainda não havia linguagens e formas verbais específicas estabelecidas para isso.
Alguns historiadores se baseiam em figuras do homem primitivo dançando registradas nas paredes das cavernas de Lascaux na França, lugar famoso por suas pinturas rupestres. Naquela época o homem registrava nas paredes das cavernas apenas o que era importante para sua sobrevivência. Acredita-se que as figuras dançantes possam representar rituais religiosos, já que fazia parte dos costumes sociais primitivos o agradecimento a deuses, a imitação da natureza e até invocação de suas próprias forças, dançando para a chegada da chuva, para a terra gerar bons frutos e para sua expressão instintiva.
De acordo com Caminada (1999, p. 22), “mesmo lutando incessantemente pela sua sobrevivência, o homem em algum momento, dirigiu sua atenção para a atividade imaterial e tornou-se artista.” Nesse âmbito de pensamento pode-se dizer que a dança também surgiu da necessidade de expressar uma emoção, de algo misterioso e particular de um ser. Por isso ela se eleva como arte, em função da sensibilidade e consciência humana, como a música, a pintura e outras artes.
Ainda na época pré-histórica, o homem já vinha tendo a consciência de que seus gestos ou movimentos só obtinham efeito se fossem executados dentro de certas regras como a divisão do tempo e a duração, percebendo o ritmo na dança, sendo ele com ou sem acompanhamento sonoro. Essa fundamentação começou em torno do som produzido pelos pés dos que dançavam que foram observando cada vez mais que a essência da dança é o ritmo. Depois os gestos e movimentos foram sendo reforçados pelo bater das palmas, pela percussão e mais tarde, pela instrumentação.
Instalou-se a preocupação com a coordenação estética dos movimentos, que antes eram naturais e instintivos do corpo, criando a “dança espetáculo”, começando a surgir novas formas de entendimento da dança. Vieram danças tribais sucedendo as primitivas, nas quais o homem estabelece papéis em sua comunidade religiosa, diferenciando também os papéis principais na dança, como os que ficam no coro e os que marcam o ritmo. São rituais coletivos onde máscaras, vestimentas e os próprios passos seguem um padrão. Originaram-se na África e perduram no Haiti e Brasil.
Conforme Nova (2001, p. 63) “o desenvolvimento da sensibilidade artística determinou a configuração da dança como manifestação estética.” Vendo a dança como manifestação estética ela se transforma em arte. Na Grécia antiga a musa dessa arte era chamada Terpsícore que trazia inspiração aos dançarinos com graça e agilidade. No antigo Egito, duas décadas antes da era Cristã se homenageava através da dança ao deus Osíris, um caráter simbólico religioso que se tornou comum às danças clássicas de alguns povos asiáticos.
Especificamente na Grécia, na Antiguidade Clássica, a dança era vinculada aos jogos, em especial aos olímpicos. Nessa forma de dança era indispensável à preocupação com o equilíbrio dos músculos e articulações, respiração e circulação, no qual jogo e dança se assemelham. As danças de corte vieram com o renascimento e a dança teatro, extinta em séculos anteriores reaparece com força nas cortes e palácios. Foram elaborados tratados sobre a arte da dança a partir do século XVI que fizeram com que cada corte européia criasse suas próprias formas peculiares de dança.
Na Itália predominou-se a pantomima, um teatro gestual com o mínimo possível de palavras e maior uso dos gestos do corpo que foi totalmente introduzida na Comédia Dell’ Arte italiana, uma forma popular de teatro improvisado. Já na França estabelece-se um bailado de roda, o branle francês, onde todos podiam participar. Na Espanha a moda era a pavana, sarabanda, chacona e passacale ritmos de dança de caráter folclórico. Como refinamento cortesão para os europeus surgiu o minueto, a valsa e com elas se inicia a passagem da dança em grupo ao baile de pares. No Brasil vem o surgimento do maxixi que causa polêmica por ser uma dança muito sensual misturando a habanera cubana, a polca e o ritmo sincopado africano. O que também causou certo escândalo foi o tango que chega ao início do século XX na Argentina, uma dança em par que surge nos cabarés.
A tradição oriental vem com a religiosidade, com uma simbologia expressa nos trajes, maquiagens, onde a cor tem papel de representar hierarquia nos personagens. No Extremo Oriente atrações exóticas inspiram os balés modernos. As danças teatrais determinam uma disciplina artística que ocasionou o desenvolvimento do balé em primeiro lugar. Também desenvolveu gêneros como o sapateado e muitos grandes nomes da dança.
Fora do âmbito de espetáculo a dança veio como tradição popular. Como exemplo observa-se a introdução musical africana no Brasil no nascimento de danças como o maracatu, o samba e vários outros ritmos brasileiros. Há grande diversidade também nos bailados populares europeus, como as danças eslavas de saltos e giros complexos, e traços dos movimentos sincronizados e deslocados dos bailarinos que definem danças como a tarantela italiana.
Ao longo dos anos muitas modalidades, gêneros, escolas, grupos e academias foram criados em diversos lugares do mundo e conferidos a cada um, um estilo próprio sem interferir na universalidade de cada um. Segundo Acharar (1998), de forma geral a prática da dança permite enriquecer e desenvolver as qualidades humanas no seu físico, na sua mente, no seu caráter, em sua relação social, através da beleza corporal, da visão, da precisão coordenação, flexibilidade, imaginação, tenacidade e expressão desenvolvidas que são essências da dança. Desde a época primitiva até os dias atuais a dança vem se transformando, deixando conosco vestígios de suas características passadas, como a de liberdade de expressão. Sendo assim pode-se afirmar que independente da forma da dança, se artística, espetáculo, popular ou qualquer outra, a dança é, e sempre será, um caminho para a descoberta de um mundo novo, introspectivo, que somente aqueles que o praticam podem descobrir.

Texto: Bruna Naiara Felicio Lorrenzzetti

Mayra ok

Foto: Chico Maurente

REFERÊNCIAS
ACHARAR, Dalal. Balé: uma arte. Rio de Janeiro: Ediouro, 1998.
CAMINADA, Eliana. História da Dança: Evolução Cultural. Rio de Janeiro: Sprint, 1999.
FARO, Antônio José. Pequena História da Dança. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1986.
NANNI, Dionísia. Dança educação: princípios, métodos e técnicas. 2. ed. Rio de Janeiro: Sprint, 1998
NOVA Enciclopédia Barsa. São Paulo: Barsa Cultural Editorial, 2001.
OSSONA, Paulina. A Educação pela Dança. São Paulo: Summus, 1998.
STRAZZACAPPA, Márcia; MORANDI, Carla. Entre a arte e a docência: a formação do artista da dança. Campinas: Papirus, 2006.