O sincronismo do conjunto, os detalhes do individual e uma herança histórica. Assim se constroem, em pequenos compassos, as peculiaridades da dança a caráter, tão importante na formação do bailarino para a interpretação dos balés de repertório.
A Escola Bolshoi trouxe para o Brasil a tradição e excelência russa na formação de bailarinos, que hoje atuam pelo mundo. Uma tradição mantida por mestres russos e brasileiros, que buscam criar um elo cultural entre os países sem perder as raízes. E a dança a caráter, também conhecida como folclórica, remete à História sem perder a essência, trazendo ensinamentos preciosos, do período romântico até os dias atuais, que continuam sendo indispensáveis no palco.
Na Escola Bolshoi, a dança a caráter é ensinada aos alunos desde a primeira série, com a aula de dança popular histórica. Nesta disciplina, aprendem-se os movimentos básicos, que também auxiliam no desenvolvimento da dança clássica. Além disso, os alunos adquirem uma noção básica rítmica e musical, aprendem a dança a dois e em conjunto. O resultado deste trabalho é o primeiro contato com o palco, com coreografias que dão base para grandes interpretações no futuro.

Energia e vigor

As Danças Polovitsianas, parte do II Ato da ópera “O Príncipe Igor”, composta pelo russo Alexander Borodin, é um balé conhecido por sua energia e vigor, e sua base é fundamentada nos princípios da dança a caráter. No palco, a Escola Bolshoi dança a versão coreográfica de Kasian Goleyzovsky. A emoção transborda, as cores transformam diferentes desenhos em uma grande obra-prima e os bailarinos são desafiados a incorporar as características de personagens do século XII, com toda emoção e precisão que a dança exige, do início ao fim, do corpo de baile aos solistas.
O enredo da ópera é baseado em um épico russo, e conta a história do príncipe Igor Svjatoslavich, que lutou contra um povo bárbaro e nômade conhecido como polovitsianos. A dança acontece no acampamento destas tribos, que mantêm o Príncipe Igor como refém. O líder polovitsiano Kontchak, que havia aprisionado o príncipe, tenta tratá-lo gentilmente, e para entretê-lo ordena a seus jovens escravos que dancem para Igor. A remontagem da Escola Bolshoi contou com o conhecimento de mestres russos, que viveram esses personagens no Teatro Bolshoi, somado à experiência dos professores brasileiros, que acompanharam cada passo desde a primeira montagem do balé, no Brasil.
Assim como as danças polovitsianas, outros balés exigem o conhecimento dos princípios de execução técnica da dança a caráter e da compreensão das características mais marcantes dos diferentes povos. Tal ciência permite a concepção do trabalho de tronco, braços, intenções e diversas nuances expressivas, próprias da história de cada personagem.
Para Maikon Golini, professor da disciplina na Escola Bolshoi, “Na aula de dança a caráter as expressões são muito importantes. Os alunos crescem e aprendem a construir os personagens dentro de suas características. Eles estudam os repertórios, os personagens, e esta aula dá base a pequenos detalhes, como o de abrir e fechar as mãos, mover os braços, mexer a cabeça e despertar o personagem que tem dentro de cada um”.

SITE_Persa_Manuela Schneider

SITE_Principe _Igor_Bolshoi Brasil_Nilson Bastian